3 de mar. de 2011

Landell e a Ciência na Onda

Por Fábio Almeida*


Estamos no ano de 2011, a nave aporta emitindo três raios luminosos sobre as antenas mais altas da cidade. Se o escritor desta cena mudasse a data para o ano de 1900, a nave iria se conectar aos milhares de fios de telefonia instalados nas grandes cidades da época.

E talvez, a nave poderia encontrar o cientista Padre Roberto Landell de Moura, em São Paulo, na novata Avenida Paulista, ainda com ruas de terra, numa tarde de inverno fazendo a primeira transmissão pública de voz por aparelhos sem fios. Landell sabia, que a ciência estava na onda.

Depois de várias experiências com transmissores, que datam desde 1892, Landell resolveu realizar em 03 de junho de 1900, uma demonstração pública, que contou com a presença de autoridades como o vice-consul inglês Sir. Percy Charles Parmenter Lupton. As notas da imprensa da época descrevem uma transmissão de oito quilômetros, que é a distância entre a Avenida Paulista e a capela de Landell, no bairro de Santana. Já faz tempo, mas estes eram dois pontos altos que se destacavam na cidade.

O conceito de falar em um local e fazer a voz aparecer em outro, sem o uso de nenhuma concexão física e ainda realizado por um sacerdote foi mal compreendido na época. Estes fatos, tinham fundamentos técnicos porque Landell foi um grande estudioso de física e química, quando esteve com os jesuítas em Roma, na Itália. Mas, Landell relata que muitas vezes o acusaram de realizar ocultismo ou magia e chegaram até a destruir um de seus laboratórios.

Por outro lado, as autoridades e elite da época, mais ligadas à cultura econômica de exportação do café, talvez não eram evoluídos o suficiente para compreender o desenvolvimento que Landell propôs, e isso realizado há apenas doze anos após a queda do império no Brasil.

Hoje, vivemos a época dos transmissores sem fios. Rádios comunicadores, controles remotos e televisores são exemplos de aparelhos encontrados nos projetos que Landell realizou há mais de cem anos.

O conhecimento que Landell desenvolveu resultou em ondas eletromagnéticas, que são invisíveis, um conceito difícil para a época antes do período modernista brasileiro, e não foram compreendidas em seu tempo. Mas, hoje em pleno século XXI, com todas as ondas disponíveis, as pessoas de todos os países têm a oportunidade de promover a multiplicidade de conhecimentos, através do uso dos diversos transmissores portáteis existentes. O que permite que todos possam usar os aparelhos para emitir informações que anulem dogmas e neutralizem preconceitos. Pontos que são os grandes obstáculos para a difusão de conhecimentos no mundo.

É nesse sentido, que o documentário televisivo sobre Landell, que estamos realizando, não pode se resumir apenas a contar a injusta história do cientista brasileiro. Mas, o programa propõe um campo de reflexões, sobre as condições em que a ciência é transmitida e recebida, no nosso tempo tecnológico.

*Fábio Almeida - jornalista, diretor de vídeos de ciência e arte, criou o ciclo de palestras Ciencine e atualmente realiza projetos de documentários para produtoras, emissoras de TV e mídias móveis.


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